Hoje acabou a energia no hospital. Assim que eu havia chegado ela piscou. Eu estava só na brinquedoteca. Medo. Medo do escuro. Pensei nas crianças. Ligaram o gerador. Foi rápido, ainda bem.
Pude ler o relatório do dia anterior. Uma contadora perguntava se alguém conhecia o "tal livro mágico que assopra e muda de cor, porque as crianças não paravam de pedir". Preciso ser honesta. Dá um bem estar saber que as crianças lembram da gente, gostam da gente, sentem com a gente. O livro é mágico sim, mágico porque cada uma das crianças que toca nele se encanta e esse encanto é transformador, para mim e para eles.
Certas transformações são como mágica: inexplicáveis, rápidas. Maravilhosas.
Saí para os quartos cheia de alegria. Assim que cheguei no andar encontrei uma menina linda no corredor. Já nos conhecemos. Fomos para o quarto, mostrei o livro Leo e Albertina e antes que ela pudesse dizer algo, a luz apagou, mais uma vez. Só deu tempo de segurar em sua mão pequeninha, que apertou bem forte a minha (que apesar de pequena, perto da dela ficou gigante). Deu um medo. Às vezes dá um medo. A luz voltou novamente, bem rápido.
Ela olhou para mim, assutada. Mas em segundos retomou o assunto, como se nada tivesse acontecido:
- Esse eu já conheço! É a história do porco, ele se apaixona pela galinha. É uma história de amor.
- Ah, é? E como é que termina?
- Aiii Tia! Claro que eles viveram felizes para sempre! Até parece que você não sabe!
Sem doces ilusões, às vezes nos esquecemos disso. Sempre viveremos felizes para sempre. Sozinhos, juntos, com poucos, com uma multidão. A vida toda, por muitos e muitos anos, por alguns poucos anos, por dias, e até mesmo por poucos maravilhosos momentos. Basta entender que o "para sempre" pode não seguir o mesmo ritmo do relógio ou do calendário. Basta ter coragem, porque medo, esse a gente sempre tem. E nem é preciso estar no escuro...
segunda-feira, 13 de abril de 2009
terça-feira, 17 de março de 2009
Quando eu voltar a ser criança
Hoje pensei: vou escrever no blog. Comecei com um discurso besta sobre o tempo, o quão é efêmero, o quanto reclamamos dele, etc, etc. Cheguei á conclusão, ou melhor, indagação: Lilian, quem você pensa que é para falar qualquer coisa sobre o tempo!?! Desisti. Óbvio. Mas pensei nas crianças. Estava explicada a minha vontade de falar do tempo: pela primeira em quase seis anos, faz três semana que não vou contar histórias no hospital. Culpa do tempo. Ou o que chamamos de "falte de".
Isso me deixou profundamente triste. Sei lá eu porque, fiquei pensando no primeiro livro que realmente me tocou. Eu tinha 10 anos quando li, ganhei do meu pai (isso já faz 19 anos!): "Quando eu voltar a ser criança". Fui olhar na minha pequena biblioteca - se é que assim posso chamá-la, e ele estava lá. Velhinho, puído, sujo, mas com as folhas intactas (ok, tem uns riscos de caneta nas contracapas, acho que foi minha irmã caçula...). O autor é Janusz Korczak, um educador polonês, que viveu em um orfanato. Fiquei feliz.
De repente, me deu um estalo!!! Só pode se isso. Está explicada minha paixão pelas crianças, pelas histórias, em tentar nunca me esquecer de como é o universo infantil. Li o prefácio, da Tatiana Belinky (imagina, nem sabia quem ela era na época). Li as primeiras páginas novamente e lembrei de tudo. Tudinho. É claro, já comecei a ler novamente, e escrevo este post também para indicar para aqueles que pretendem entrar no universo infantil, lembrar como é ser e pensar como criança.
Será que foi um sinal? Voltei a pensar nas crianças do hospital. Isso não pode mais acontecer. Semana que vem estarei lá, Lili, firme e forte, de quarto em quarto, com minha sacolinha mágica, meu sorriso sincero e meu peito aberto. Cheio de amor pra dar, histórias pra contar e tempo para compartilhar. Era isso que eu tinha pra dizer.
Isso me deixou profundamente triste. Sei lá eu porque, fiquei pensando no primeiro livro que realmente me tocou. Eu tinha 10 anos quando li, ganhei do meu pai (isso já faz 19 anos!): "Quando eu voltar a ser criança". Fui olhar na minha pequena biblioteca - se é que assim posso chamá-la, e ele estava lá. Velhinho, puído, sujo, mas com as folhas intactas (ok, tem uns riscos de caneta nas contracapas, acho que foi minha irmã caçula...). O autor é Janusz Korczak, um educador polonês, que viveu em um orfanato. Fiquei feliz.
De repente, me deu um estalo!!! Só pode se isso. Está explicada minha paixão pelas crianças, pelas histórias, em tentar nunca me esquecer de como é o universo infantil. Li o prefácio, da Tatiana Belinky (imagina, nem sabia quem ela era na época). Li as primeiras páginas novamente e lembrei de tudo. Tudinho. É claro, já comecei a ler novamente, e escrevo este post também para indicar para aqueles que pretendem entrar no universo infantil, lembrar como é ser e pensar como criança.
Será que foi um sinal? Voltei a pensar nas crianças do hospital. Isso não pode mais acontecer. Semana que vem estarei lá, Lili, firme e forte, de quarto em quarto, com minha sacolinha mágica, meu sorriso sincero e meu peito aberto. Cheio de amor pra dar, histórias pra contar e tempo para compartilhar. Era isso que eu tinha pra dizer.
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