Hoje acabou a energia no hospital. Assim que eu havia chegado ela piscou. Eu estava só na brinquedoteca. Medo. Medo do escuro. Pensei nas crianças. Ligaram o gerador. Foi rápido, ainda bem.
Pude ler o relatório do dia anterior. Uma contadora perguntava se alguém conhecia o "tal livro mágico que assopra e muda de cor, porque as crianças não paravam de pedir". Preciso ser honesta. Dá um bem estar saber que as crianças lembram da gente, gostam da gente, sentem com a gente. O livro é mágico sim, mágico porque cada uma das crianças que toca nele se encanta e esse encanto é transformador, para mim e para eles.
Certas transformações são como mágica: inexplicáveis, rápidas. Maravilhosas.
Saí para os quartos cheia de alegria. Assim que cheguei no andar encontrei uma menina linda no corredor. Já nos conhecemos. Fomos para o quarto, mostrei o livro Leo e Albertina e antes que ela pudesse dizer algo, a luz apagou, mais uma vez. Só deu tempo de segurar em sua mão pequeninha, que apertou bem forte a minha (que apesar de pequena, perto da dela ficou gigante). Deu um medo. Às vezes dá um medo. A luz voltou novamente, bem rápido.
Ela olhou para mim, assutada. Mas em segundos retomou o assunto, como se nada tivesse acontecido:
- Esse eu já conheço! É a história do porco, ele se apaixona pela galinha. É uma história de amor.
- Ah, é? E como é que termina?
- Aiii Tia! Claro que eles viveram felizes para sempre! Até parece que você não sabe!
Sem doces ilusões, às vezes nos esquecemos disso. Sempre viveremos felizes para sempre. Sozinhos, juntos, com poucos, com uma multidão. A vida toda, por muitos e muitos anos, por alguns poucos anos, por dias, e até mesmo por poucos maravilhosos momentos. Basta entender que o "para sempre" pode não seguir o mesmo ritmo do relógio ou do calendário. Basta ter coragem, porque medo, esse a gente sempre tem. E nem é preciso estar no escuro...
segunda-feira, 13 de abril de 2009
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